Abril: Mês da Conscientização do Autismo



Com a correria do dia a dia não consegui escrever um post dedicado ao 2 DE ABRIL que foi o dia escolhido para conscientizar mundialmente as pessoas sobre o AUTISMO. Então resolvi contar pra vocês um pouquinho da minha experiência.

Há quatro anos recebi em meu consultório uma criança, que chamarei aqui de Y., de apenas 2 anos. Sua mãe tinha a queixa de que o filho estava com atraso na fala e que ele ainda não formava frases. Disse que o filho não dormia direito, que acordava muito no meio da noite dando risadas ou muito agitado.

No primeiro contato com a criança já pude perceber de que não se tratava de um atraso simples de linguagem. Ele não olhava para mim, não seguia os meus comandos. A repetição de palavras era perfeita, ainda que com algumas trocas de fonemas. Mas era uma ecolalia. Não dizia uma palavra dentro do contexto em que estávamos. Aprendia rápido as imitações. Músicas, bastava cantar uma vez. Seu interesse em brincar era muito restrito, podia dar para ele um carrinho que ele ficava a terapia inteira empurrando-o para frente e para trás ou girando e observando o movimento das rodinhas. Às vezes, durante alguma brincadeira, levantava da cadeira e dava uma volta na sala, como que se quisesse "respirar". Pedia a ele para voltar e nada.

Era necessário pesquisar mais, pedir outras avaliações. E foi isso que eu fiz. Encaminhei para o neuropediatra que deu a hipótese diagnóstica de autismo atípico. Era o que eu suspeitava.

Aí veio a tarefa que, para mim, foi a mais difícil: conversar com a mãe. Ela não sabia do que se tratava e o médico apenas lhe falou: seu filho tem AUTISMO!!!. Coube a mim explicar o que era. Essa mãe chorou muito na minha frente. Negou, duvidou, ficou com raiva e disse que estávamos errados. Que o filho dela era NORMAL!

Tentei compreender essa explosão de sentimentos, pois tenho um filho e posso imaginar o sofrimento de uma mãe no momento em que recebe esse diagnóstico do filho. 

O tempo foi passando e Y. respondia muito bem aos estímulos. Estava desenvolvendo bem a fala, a interação com as pessoas e o brincar. Mas a mãe reclamava que ele não se comportava direito na escola. Que entrava na escola chorando muito. A professora dizia que ele passava a aula inteira debaixo da mesa e de costas para as pessoas. 

Expliquei à  mãe que ele estava passando por uma experiência nova e que ele teria dificuldades em enfrentar situações que fugisse da rotina dele. Orientei a professora em como fazer para tentar melhorar o comportamento dele dentro de sala de aula. Aos poucos foi entendendo e seguindo mais às regras sociais.
Pedia para ir ao banheiro e ficava mais tempo sentado para fazer as tarefas escolares. A cada tarefa cumprida, era recompensado com o seu brinquedo preferido.

Um dia no corredor, a mãe me parou para falar que a situação em casa estava fora de controle. Ela não sabia mais o que fazer para Y.parar de tampar os ouvidos e de gritar quando escutava os cachorros da rua latirem. O desespero foi tanto, que chegou ao ponto dela colocar os cachorros no seu próprio carro e levá-los para um lugar mais longe de casa. Achou que assim fosse resolver o problema. Mas, e as festas de aniversário? E o liquidificador? O trânsito? Os cachorros dos vizinhos? Como ela iria fazer para tornar a "realidade"silenciosa? Conversei mais uma vez com ela e expliquei que Y. tinha seus sentidos desorganizados e muitas vezes aumentados. Ele tinha uma hipersensibilidade auditiva e era difícil para ele conviver com os sons muito altos. Fizemos bastante estimulação auditiva e ele está aprendendo a lidar melhor com esses barulhos.

Nesses anos não só Y. tem aprendido, mas eu também tenho aprendido muito com ele. Trocamos muitas experiências e ele me dá todas as pistas de até onde podemos ir. Hoje aos 6 anos já consegue identificar todas as letras do alfabeto e consegue ler algumas sílabas. Já consegue associar a letra à figura. A fala está mais contextualizada, forma frases e está começando a contar histórias. Consegue demonstrar seus desejos, e fica feliz em estar perto das pessoas. 

Não há como não se envolver e não se apaixonar por eles. É fascinante ver e participar de cada conquista, de cada descoberta, de cada superação.

Nessa semana ele fez uma surpresa para mim. No mês que é dele, fui eu a presenteada com uma bela rosa vermelha! A mãe disse que eles estavam passando em frente a uma floricultura, quando ele apontou para a rosa e disse o meu nome. Ela entendeu o recado ; )

Um grande beijo a todas essas crianças, que para mim, são mais que especiais!


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